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quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Saiu no jornal

Passado o pé de vento que rodou
minha cabeça, ao espertar do dia
se me aportou este silêncio vasto
que me abriu um deserto à janela.

Gosto deste quieto. Eu me escuto
nele. Ele fala as mesmas palavras
da minha dor. E outro me cegaria
também  e quão bem!  de saudade dela?

— e saudade é braseiro sob cinza —.
E que outro silêncio me amarraria
também  e quão bem!  na saudade dela?

Gosto deste quieto que cala mágoa,
que cala cores, que cala os albores,
que me  desmaia de  saudade dela.

                                                                                                                    

(A gari pega e grita e grita, abrindo os braços: “Acudam, acudam! Um homem caiu da janela, no quarto”. Depois, saiu no jornal: “Além do uísque na mesinha, estes versos, em papel rasgado, eram prosopopeia gritante, na cama”).

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Mariana e a onça-negra da mata preta

No aniversário da Princesinha Ianie.


"Criança? Criança é remédio para alma caída."


Dia da Criança!
Casinha de barro de Vô Joãozim.
Arco-íris de frutas e flores no quintal.
Mas de lá do corguinho.... Nossa!
É a mata preta da loca da onça-negra. 
UHRRR! UHRRR!
E Vô Joãozim: “Ninguém passa pra lá!”
E u'a menina, a Mariana: “Vô, a onça urra é de fome, é?”
A onça urra, e salta, e pega, e rasga, e come, viu?
Viu nada.
Mariana pegou pão e pegou chão pra onça.
Nossinhora, Mariana sumiu!
Sumiu nada.
 O louro Zeca veio com prosa que a viu 
dando pão à boca da onça.
E Vô Joãozim: “É mesmo, pois que é do pão na mesa?!”
E as crianças: “E ela já evem na ponte na onça que nem de cavalinho!"
Dia da Criança!
Arco-íris de flores e frutas no quintal,
e a gente na fila dando frutas à boca da onça...


- Ô, mãe! Maeê! Ih, minha mãe dormiu...Também não conto mais historinha pra ela. Não conto, quero ver  ( e ele se deitou, emburrado, aos pés da mãe).

sábado, 1 de outubro de 2016

O morador da rua pobre

Uma senhorazinha havia dito: "Morar numa ruazinha como aquela? Que será?"


É rua pobre.
É sem esquinas e falta portas.
É sem guarida  e falta postes.
É sem plantinha e falta pedra.
É sem recreio, pois  falta pão,
 e falta prole,
e falta pipa.

(Mas que imponente
c'est ma Champs-Élysées,
c'est ma Avenue Montaigne,
c’est ma Rue Soufflot!)

De um porquê, a rua pobre,
toda despida, toda rasgada,
é a minha volta, a minha casa,
pois nela mora 
(quem a adorna),
o meu amor,
eterno amor!

(Depois de tantos anos no mundo, agora vive, anonimamente, em farrapos nessa rua, num galpão em destroços. Boca da noite, a senhora da casa da frente lhe leva comida. E é ela voltar e fechar a porta, ele pega a cantarolar estes versinhos que inventou. Daí, chora. Chora).