– Pitoco! Passa! – a mãe de Pedrinho surgiu na varanda, apontando pra sua casinha. Ela ralhou porque Pedrinho estava, ó, até aqui, de deveres, e que não teria brincadeira, naquele dia. Então, Pitoco se foi pra casinha e daí ao portão e daí ninguém mais o viu. Oh, Deus! Roubaram o Pitoco. E agora?
Agora, feche os olhos para o coração ver Pitoco à carroceria de uma picape, embaraçado numa rede. Há um homem de cara ruim com ele, e Pitoco se apoia à tampa, olhando a tudo que passa até chegar à nova morada.
Pitoco não sabia o que era pior: se a comida, ou o menino sem graça que dizia ser seu dono, ou a saudade de Pedrinho. Então, numa noite, que eles apagaram as luzes, Pitoco, num salto descomunal, fugiu do cativeiro.
Sob a lua cheia, o grande amiguinho de Pedrinho alcançou a estrada. Indeciso, ele olhou várias vezes pros lados. “Ah, São Chiquim! – seu coração, por certo, está pedindo – Vai, São Chiquim de Assis, mostra-lhe o caminho...”.
Mostrou? Sim! E Pitoco, ó, abriu a venta.
Abriu a venta sob a guarda de São Chiquim. Carros e caminhões passam a toda. E os outros animais, a rondar? Lobos, onças, répteis, cachorro do mato... Mas Pitoco não parou.
Como um cãozinho consegue tanto fôlego, tanta energia? Não se sabe. O que se sabe é que seu coração, por certo, está dizendo: “Vai, São Chiquim de Assis, dê mais força ao Pitoco! Corra Pitoco! Corra mais, mais, mais!”.
Seu coração é tão bom que lhe está trazendo lágrimas, só porque Pitoco se deitou ao portão da casa dele e de Pedrinho, já dia claro. E você vê, também, a menina Cidinha, vizinha de Pedrinho, chamar ao portão:
– Pedrinhô! Ô Pedrinhô!
Pedrinho e sua mãe saíram aos gritos de Cidinha. Pedrinho ainda disse a ela: “Que doidice é essa, hein Cidinha?”. Que doidice, a da Cidinha? Ele é que não sabia que seu amiguinho estava deitado junto ao portão, muito cansado.
Pedrinho e sua mãe saíram aos gritos de Cidinha. Pedrinho ainda disse a ela: “Que doidice é essa, hein Cidinha?”. Que doidice, a da Cidinha? Ele é que não sabia que seu amiguinho estava deitado junto ao portão, muito cansado.
Pedrinho nem viu que saltou à calçada e tomou Pitoco nos braços. Daí... Bom, você vê o caderno de Pedrinho sobre a mesa, não vê? Vira páginas e lerás a oração que Pedrinho escreveu, durante os dias em que seu amiguinho esteve ausente: “São Chiquinho! Traga Pitoco de volta pra mim”.
A mãe de Pedrinho, que leu a oração, chorou. E mais: que viu Pedrinho e Pitoco a brincar no quintal, seu poço de lágrimas correu-lhe no rosto. “Ah, que me importa chorar?” – ela disse – “Eu choro, e o que é que tem? Estou nem aí...”.
Ao meu saudoso amiguinho Pitoco, que, por certo, corre e brinca em algum lugar do outro Plano de vida.