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quarta-feira, 3 de maio de 2017

De alguém do Além

“ALGUÉM OFERECE A ALGUÉM 
 E ESSE ALGUÉM SABE QUEM!”

BEM antes da sessão, ofereço a ela, sem parar, pelo som do Circo, Dio come ti amo. Botões de rosa na mão, meus 40 anos caem aos 17 dela. Busco-a, pávido, entre centenas de pessoas à luz colorida da frente do Circo. E que a única pessoa fora do espetáculo sou eu, do alto-falante me atordoa a última mensagem da noite:

“EM RESPOSTA A Dio, como ti amo, ALGUÉM OFERECE A ALGUÉM Non, ho l’età, E ESSE ALGUÉM SABE QUEM!”

Non ho l'età per amarti, deixo cair ao chão os botões. Ela no Circo com alguém rapaz, eu já numa taberna com o álcool e as lágrimas. Caio o rosto sobre a mesa, deitam-me na calçada. Dia claro, uma senhora faz alarde: “Chame a polícia! Há um morto aqui!”. Morto, eu? Estranho, estarrecedor, é ver o próprio corpo sendo levado. Ou isso não passa de sonho? Não, eu morri, sim. “Cardíaco”, ouço dizer. Daí alguém envolto por frágil luz se me aproxima, me abraça, me fala de tudo com carinho, me convida a ir com ela. Sigo-a, e que tiro as mãos do rosto, lamento por minha morte, já me vejo aqui no Além, como se diz aí, residente num hospital, há certo tempo em processo de cura à sedução desse amor.