“De repente, o mundo inteiro é um silêncio absurdo. Só porque se calou a tua voz”. Silêncio. Marina Alves.
www.recantodasletras.com.br, 2015.
Ave, se alguém souber de mim à janela, madrugada, 5 h. Mas sabe que de saber até que vai? Dou jeito, tiro o corpo fora. Nego a cair de costas. Duro é ser visto com esta cara de sonhos afundados no poço da indiferença dela. Negar, como?! Aí, claro que irão dizer: “Sabia. Estava na cara que suas flechadas de amor iam topar a pedra da Gávea no caminho do coração dela. Só você não via.”
Com a cabeça à roda, vivo “esse silêncio absurdo porque a voz dela se calou” (1). Ô! A casa está ao jeito de fim de feira; mas o lençol da minha cama, esticadinho. E a coisa piorou quando me disseram que alguém disse que a flecha de certo homem acertou em cheio o coração dela. Apre! Até parece que a vida é de um dia, e o que passo é de três.
Então eu tento panos quentes em mim. Mas acho que estou a me enganar, ao afirmar que a vida é assim, que “viver é muito perigoso…” (2). Então eu me lembro da minha mãe: “Se a coisa tem solução, não bagunce o coração, pois tem solução; mas se a coisa não tem solução, não bagunce o coração, pois não tem solução”. Mas mãe! A solução é ela, e agora, agorinha, já!
Quer saber de um caso? Madrugada, 5 h., vou sair da janela, não dar a cara ao sereno, me desatar deste nem ato nem desato e quebrar a lisura do lençol, o que não quer dizer pegar no sono. Até porque daqui a uns.... Ih, está é na hora de o bem-te-vi, o que dorme nesta arvoreta de lado, acordar. E eu não quero que ninguém, nem bem nem mal, me veja com esta cara de sonhos afundados no poço da indiferença dela. Ah, não quero mesmo!
(2) Grande sertão: veredas. João Guimarães Rosa